Autora Jennifer Santos. Data da publicação 6 de Junho.
Dizem que por vezes é preciso bater com a cabeça. Acredito que muitas vezes é preciso bater com o corpo todo. Contra a parede, contra o chão, contra os outros.
Esta é uma carta aberta. A todos os outros cujo meu corpo colidiu. A todos os outros que me viram sem eu me ver, através do que parecia ser, sabendo quem eu era antes de eu própria o saber. A todos os outros que ouviram, responderam, e pensaram que o meu ripostar seria uma perpétua refutação.
A todos os outros que me viram a cair após aviso prévio e mesmo assim ficaram na plateia, assistindo no silêncio, segurando na distância, e acompanhando, sempre, vigilantes, empáticos.

A cada pedido de desculpa, um agradecimento. A cada obrigada, o eterno reconhecimento do que pareceu durante anos a fio ser em vão. Não é, não foi. Algo em mim ouviu.
Sim, tal como alguns de vós, treinar já foi o meu vício (e estava tão na moda dizê-lo!). Passei anos a treinar sozinha no meu cantinho, completamente focada em atingir aqueles objetivos que todos que começam querem muito alcançar, bastante lesionada com um corpo já mudo pelo auto-massacre, movida pela necessidade de poder controlar alguma coisa numa fase em que todo o resto rodopiava desafogadamente em torno de mim.
Até que certo dia, pela primeira vez em três anos, fugi à programação semanal de treino, fiz um team wod com um grupo de amigos e…
Não é que a liberdade e, sobretudo, a partilha souberam bem…? Mas olhem, sabem uma coisa? Cheguei a uma bela conclusão. Esta contestação de factos poderá criar um misto de reações — e de julgamentos. Respeito ambos, de bom agrado. Mas digo-vos já. Passamos demasiado tempo a observar o outro, a fazer assunções, a tirar conclusões, quando no fundo…. Lá sabemos. Sabem o que sabemos, sem sombra de dúvida? Sabemos quem são os nossos. Sabendo isso, sabemos tudo. Sabendo tudo, porque não tirar um momento para reconhecê-lo?

É esse o desafio a que te proponho. Hoje, ou amanhã, tira um tempo do teu dia para dizer obrigada.
Àquele parceiro de treino que te sussurrou um “bora, tu consegues” a meio de um WOD; àquele coach que te disse que era melhor acabares por hoje quando querias fazer mais um tentativa aparvalhada para bateres PR; àquele desconhecido que te sorriu à entrada da box naquele dia em que já estavas a perder a fé na humanidade; àquele colega que celebrou a tua pequena vitória com quase o mesmo entusiasmo que celebraste essa conquista; àquele terapeuta que te transmitiu umas dicas valiosas para tratares daquela “dorzinha” chata no ombro; àquela nutricionista que te deu um desconto quando te serviste de duas fatias de bolo de aniversário do sócio do ginásio. Não permitam que as pequenas coisas continuem a passar despercebidas — afinal de contas, foram dessas que mais tivemos saudades nestes últimos meses em que ficámos sem elas.
O que precisamos mesmo? Talvez nem seja de bater com algo em algo. Talvez seja de bater com nada em nada. Talvez seja apenas passar mais tempo calado, a ouvir o outro, para ver se aprendemos alguma coisa.
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